14 agosto, 2011

Fanfai- COLUNA EFIGÊNIO MOURA -



Lindalvo nasceu fanho, se criou fanho e tentou criar seus filhos longe dessa situação.
Desde criança em Taperoá era alvo de gozações e chateações da molecada, o que hoje seria classificado como ‘ bullyng’ lá por trás do antigo prédio da prefeitura era apelido, principalmente quando iam brincar de  ‘toca de vassoura’.
- Fanhin fi de quenga! Nem pega nós.
Pense numa pegada de ar!
E as gozações se soltavam pelas calçadas quentes de meu Taperoá, fosse a hora que fosse:
- Ei, duas venta agora é tua veiz...
E a molecada fazia a festa.
Cresceu e se mudou pra Campina e resolveu torcer por um time diferente, a Desportiva Borborema, o Gavião da Serra e foi trabalhar com Valdeir, da Campina Seguros, foi ser vendedor de seguros, a recomendação de Valdeir era para que não se alongasse muito na leitura dos contratos...


- Lindalvo, você somente arruma os clientes e manda pra cá viu?
- Tan certo.
Ser fanhoso era um problema que o fazia se calar nas festas, falar poucos nas informações e observar muito, eis que Lindalvo se apaixona...
-  Henlena...minha bênbên...
Helena, moça prendada de Bodocongó gostava muito dele e paciente que era, fazia o possível para mantê-lo por perto, de preferencia em silencio.
Havia dois sonhos para Lindalvo, um era ser pai e o outro nunca alcançou, que era ver sua Desportiva campeã estadual, depois de golear o Treze do seu patrão...
- Vingi ênle mim inchaica dimais, tonda veinz que o ganlo dele ganha de nós...
Como torcedor, era esperança dele ver o time como maior força de Campina. A Desportiva fora formado por dissidentes do Campinense e era natural que a raposa fosse seu principal adversário...
- Ganhamo de quantro a premeira partida, Binspo jongou demais. Nôto dia o Campinense disse que ia anular o jogo, pruquê Bispo jogou sem ordem do Papa...
E dava gargalhadas fanhosas ao lembrar-se da goleada, acompanhado de Valdeir, trezeano de nascença.
Lindalvo casou-se e o sonho de ter um filho se concretizou.
Como todo pai, deu a Lindalvo Segundo uma camisa da Desportiva que mandou Gracinha do Catolé fazer, e aos 2 anos Segundinho não dizia uma palavra, mas se percebia que o moleque prestava bastante atenção quando o pai falava e num domingo, dia dos pais, Lindalvo resolveu quebrar o gelo:
- Venha cán, Sengundin...
O moleque foi.
- Difa Fanfai.
Nada. O pai  insistiu.
- Diga Fanfai.
Já alterando a voz
O moleque espiando atônito respondeu:
- Fanfai.
- Fanfai não, danado. Fanfai!
Segundo respondia:
- Fanfai.
Percebendo que a situação iria descambar pra violência, Helena socorreu o filho, aproximou-se dele e disse:
- Segundo diga Papai!
- Papai.
Lindalvo pai se orgulhou e alisando a cabeça do filho disse...
- Simmmm, Fanfai. 

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