Padre Olegário Marinho
De Serqueira Souza e Brito
Vigário por trinta anos
De São José do Egito
Foi formado num regime
Onde mentir era um crime
E pecado sem perdão
Tudo isso ele aprendeu
Mas de tudo se esqueceu
Depois da ordenação.
Passados quatorze anos
Mentindo no seminário
Recebeu a provisão
Para tornar-se vigário
Fez o bispo essa loucura
De dar-lhe o título de cura
Titular de São José
Uma simples freguesia
Paroquia onde residia
Gente pacata e de fé.
Chegou para tomar posse
Pedindo de Deus auxílio
Porque sopravam no Vale
Ventos novos do Concílio
Que extinguiu o latim
De Belmonte a Itapetim
E para sua tristeza
Devia dizer a missa
Mesmo com sua preguiça
Só em lingua portuguesa.
Porém agora o problema
Para o vigário era assim:
Depois de quatorze anos
Sempre metindo em latim
Aquele novato cura
Sem da língua a cobertura
E com a mesma altivez
Devia o neo capelão
Proferir o seu sermão
Sem mentir e em português.
Padre Olegário era mestre
Nos discursos que fazia
Porque sempre demosntrava
Sua megalomania
Gostava de acrescentar
De quando em sempre aumentar
Latitude e quantidade
Mas exagerou de vez
No sermão em português
Que fez na sua cidade
Disse citando a leitura
Do livro de Isaias
Que Deus pra fazer o mundo
Gastou somente dois dias
Trocou Moisés por Sanssão
E disse que Salomão
Nunca foi rei de Israel
Isaque era do Ambó
E que o seu filho Jacó
Vive em Princesa Isabel.
O que o padre dizia
Assombrava novo e velho
Mas a coisa disandava
Na hora do Evangelho
Desabava na mentira
Dizendo que em Tabira
Tinha um primo de Jesus
O sacristão Zé Maria
Quando essas coisas ouvia
Fazia o sinal da cruz.
Que Maria Madalena
Tinha morrido em Teixeira
Por isso que ainda hoje
É de lá a padroeira
Disse que Pôncios Pilatos
Fazia a linha pra Patos
E Judas Escariotes
Nunca morreu enforcado
Negocia no mercado
De Santana dos Garrotes.
Um dia na sacristia
O sacristão sem puder
Ouvir aqueles sermões
Sem ousar nada dizer
Tomou coragem e disse
Que não tinha quem mentisse
Mas do que padre Olegario
E disse em tom respeitoso:
Sua fama de mentiroso
É maior que a de vigário.
O padre escutou sizudo
Com certo aborricimento
Mas para a sua defesa
Não encontrando argomento
Teve que admitir
Que o vicio de mentir
Era maior que a razao
E ao invés de “Deus me acuda”
Resolveu pedir ajuda
Ao astuto sacristão.
E disse: por caridade
Me ajude a mudar de vida
Não é que eu queira mentir
Mas nun tem outra saida
Quando ao povo vou falando
Aos poucos vou me enpolgando
E quando enfim dou por mim
Procuro voltar atràs
Mas ja é tade demais
Que o sermão ja ta no fim.
E o pior é que domingo
E festa do padroeiro
E vou fazer o sermão
Sobre são Jorge o guerreiro
Ali eu me desmantelo
Se tem dragão e castelo
Cavalo, lança e escudo
Ninguem nao mais se admira
Se eu me danar na mentira
E sarrabuiar com tudo.
Disse o sacristão ao padre
Não se aperrei que eu ajeito
Para a missa de domingo
Vamos fazer desse jeito:
Amarre essa corda fina
Por debaixo da batina
E dê um nó no cunhão
Que eu fico atrás do altar
Pronto pra corda puxar
Se não vai bem o sermão.
Quando a mentira for grande
E a medida exagerada
Eu pego a ponta da corda
E lhe dou uma puxada
E o senhor diminui
Volta atras, reconstitui
Repensa peso e valor
E recomeça de novo
Assim desse jeito o povo
Não fala mal do senhor.
O capelâo concordou
Mesmo achando perigoso
Porem querendo acabar
A fama de mentiroso
Disse ao sacristão: aceito!
Mas você puxe direito
Senão você me desgraça
Seja prudente e astuto
Se puxar de modo bruto
Você me capa de graça.
Chegou o dia do santo
Igreja matriz lotada
Coro afinado, andor pronto
Procissão organizada
Vestiu o padre a batina
Amarrou a corda fina
Se dirigiu pro altar
E o sacristão Zé Maria
Sentou-se na sacristia
Para o sermão escutar.
Começou padre Olegario
O sermão do padroeiro
Dizendo: povo fiel,
Viva sâo Jorge Guerreiro
Que nasceu em Solidão
E combateu um dragão
De 12 metros ou mais
Ao ouvir tal heresia
O sacristão Zé Maria
Puxou a corda pra tras.
O padre frangiu a testa
E disse assim: na verdade
Dos 12 metros que eu disse
Ele so tinha a metade
Pois era um dragão filhote
Tinha os dentes de serrote
Um rabo e duas “cabeça”
Tinha uns “oião” de pantera
Desses que olhando pra fera
Num tem quem não esmoreça.
Mas tão pensando que Jorge
Achou seu nome no lixo?
Assim que avistou a fera
Correu pra cima do bixo
Ele e a fera inquieta
Se enrolaram na roleta
Foram parar em Palmares
Jorge pensou: eu não ganho
Que o bixo era do tamanho
De um predio de 6 andares
Quase que o sacristão
Endoidiceu quando ouviu
Deu um puxão mais com força
Que quando o padre sentiu
Escorreu agua de um “oio”
Gemeu e ficou “zaroio”
Sorriu e disse depois:
Opa, me perdoem vocês
Eu disse um predio de 6?
Queria dizer de 2.
Por ocasiao da festa
O cofre da sacristia
Tava cheio das ofertas
Que o povo oferecia
E um ladrao presepeiro
Quis ir roubar o dinheiro
E ao vê-lo o sacristão
Deu um pulo da cadeira
Passou-lhe uma rasteira
Bateu com ele no chão
Nisso o ladrao reagiu
E o bufete foi pesado
E Zé Maria lutando
Sempre na corda agarrado
Foi em cima e veio em baixo
Sem se lembrar que o caixo
Do padre tava na ponta
E depois de meia hora
O ladrao correu pra fora
E o sacristâo se deu conta.
Correu logo pro altar
Para ver o capelão
Quando chegou tava o padre
Todo encolhido no chão
Gritando assim minha gente
Esse dragão realmente
Num era nem um dragão
Nem tinha rabo e veneno
Era um bixinho pequeno
Como um cavalo do cão.
Daquele dia pra ca
Padre Olegario emendou-se
A disciplina foi tanta
Que le regenerou-se
Abandonou a preguiça
Hoje quando reza a missa
E pouco seu falatório
Virou um macaco velho
So proclama o Evangelho
E passa pro ofertorio.
Hoje so fala a verdade
Reza muito e fala pouco
Tem gente que ate pensa
Que ele ficou meio louco
Toda dia reza a missa
Nunca mais teve preguiça
Nem quer saber de sermão
Virou um padre decente
Mas quer ver ele valente?
Pergunte pelo dragâo-
Eita Padre mentiroso danado Homem!!! parabéns ao padre Braz pelo excelente causo e a Cicero Morais pelo show de declamação!!! Carlos Aires
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