20 julho, 2011

SUICÍDIO - ESTRÉIA DA COLUNA ISMAEL GAIÃO

É com grande prazer que anuncio a chegada de mais um colunista no Blog do Belmontense, o poeta amigo Ismael Gaião, que inicia seu causo



SUICÍDIO

Da varanda de seu apartamento, a linda jovem, que acabara de se arrumar para ir à faculdade, gritou:

- Ai meu Deus, ela vai pular!

- O que foi minha filha?

- Aquela moça, mamãe. Em cima daquele prédio. Ela está tentando um suicídio.

- Que prédio? Que moça? Não estou enxergando.

- Aquele, da avenida ali em frente. A moça está com uma touca branca na cabeça.

- Meu Deus! A que ponto chega o desespero humano. No mínimo ela perdeu o emprego ou, talvez,

encontrou o marido na cama com outra mulher.

- Temos que fazer alguma coisa. Vou ligar para o corpo de bombeiros.

Começou o corre-corre. Enquanto a mulher ligava para o corpo de bombeiros, a filha conversava com o namorado ao celular.

- Uma moça está em cima de um prédio, aqui perto, tentando suicídio. Vamos avisar aos amigos no Orkut. É possível que alguém more lá e tente fazê-la desistir.

Após falar com a emergência do corpo de bombeiros, a senhora, que deixou a comida abandonada no fogão, interfonou para a guarita de seu prédio.

- Você tem o telefone do condomínio daquele prédio? Uma mulher está querendo pular da cobertura!

- Estou vendo. Parece que o marido está atrás dela. Deve ser briga de casal.

Aos poucos, a informação circulava pelas redes sociais. O trânsito, que há muitos anos deu um nó, parou de vez. Das janelas dos ônibus ouviam-se os gritos:

- Ele não merece isso não. Dá um tiro nele.

- Como é que eu chego ao trabalho hoje?

Multidões se aproximavam por todos os lados. Ruas, becos e avenidas. Era uma multidão só. Vendedores de água mineral corriam de carro em carro.

- Olha a água, madame! “É dois real”. “É só dois real”.

- O governo não faz nada. Deveria haver psicólogos e assistentes sociais em todos os postos de saúde. O povo deveria receber mais atenção dos governantes.

Limpadores jogavam água nos para-brisa. Algumas moças entregavam panfletos de propaganda.

- Gostosa! Você é a nora que minha mãe pediu a Deus!

- Não jogue, não! O para-brisa estava limpo e você jogou sua água suja!

- Essa é a terceira vez que ela tenta suicídio. Há pouco mais de um mês ela tomou uma caixa de comprimidos, mas conseguiram salvá-la.

O barulho das buzinas era ensurdecedor. O corpo de bombeiros e a polícia usavam megafones, mas os dois, que se encontravam em cima do prédio, não ouviam.

Devagar, eles caminhavam de um lado para o outro, em cima do teto. Os repórteres chegavam de todas as rádios, jornais e redes de televisão.

- O plantão 24 horas informa: Jovem tenta suicídio em um dos prédios mais altos do centro dessa capital.

Pequenos assaltos foram ocorrendo nas ruas da vizinhança. Mulheres e jovens eram os melhores alvos dos pequenos bandidos.

- Policial, um trombadinha levou minha carteira e meu celular.

- A vida daquela moça está em jogo. A senhora não está vendo?

Os pequenos comerciantes fecharam suas portas. Os guardas de trânsito não conseguiam controlar os engarrafamentos. O Shopping Center reforçou a sua segurança.


- Mais uma vez, vou chegar atrasado. Vou perder meu emprego!

Sirenes tocavam por todos os lados. Ambulâncias pediam passagem. Viaturas policiais tentavam se aproximar.

- Não adianta você buzinar. Não tá vendo que o trânsito está parado?

- Passa por cima, porra!

- E aí, cara. Há quanto tempo? Só assim a gente se encontrava.

- Viu? O Santinha ontem botou três a zero no Petrolina. Vamos ser "campeão"!

- É. E a "coisa" empatou. Vai ficar fora do grupo dos quatro. Você vai ver.

- Essa cidade está um caos. O que foi que houve mesmo?

- Uma moça está tentando suicídio. Foi traída pelo marido.

- Isso é falta de homem. Por que não deram meu telefone pra ela?

As janelas e varandas do prédio estavam superlotadas de curiosos. Alguns gritavam para a multidão:

- Vocês não têm o que fazer não? Vão cuidar de suas vidas! Bando de vagabundos!

- E aí, minha filha, conseguiu falar com alguém daquele prédio?

- Não, mas acho que agora é tarde. Não vejo mais a mulher. Parece que ela pulou.

- Pulou não. Tem um homem perto dela. Não enxergo direito, mas acho que estão conversando numa boa. Talvez ele consiga fazê-la desistir.

O aglomerado de pessoas cada vez mais aumentava. Nem o galo da madrugada conseguiu juntar tanta gente.

- A calçada está cheia de sangue!

- Tão jovem. Isso é falta de fé em Deus. É coisa do demônio. Vou orar por ela.

- Eu mato qualquer homem ou, então, lhe boto um par de chifres, mas jamais morro por homem nenhum.

- O sangue não é dela, não! Foi um rapaz que cortou o pé no portão da garagem. - Também, num imprensado desse. Eita, povo desocupado!

- Mamãe, olha na TV. É o prédio da gente.

- É mesmo. Que será que houve? Escute.

- Jovem tenta se jogar do 13º andar de um prédio depois de ingerir uma colher de veneno de rato. Segundo informações dos vizinhos e transeuntes, essa é a quinta vez que ela faz isso. É bronca! Daqui a pouco daremos mais detalhes!

- Tenho que me mudar daqui. Isso está parecendo uma favela. Tanto que trabalhei para morar num bairro nobre. Agora, veja no que deu. Nosso prédio virou notícia policial.

- Que mau cheiro é esse, mamãe?

- Ah! Meu Deus. Queimei o almoço.

Finalmente, após longas horas de trabalho, um policial resolveu falar com o porteiro do prédio, que abismado respondeu:

- Aquele casal? Em cima do prédio? Esquente não, meu irmão. Eles estão inspecionando a reforma. São fiscais da segurança do trabalho.



Ismael Gaião da Costa

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