25 junho, 2011

Lei do Sigilo Eterno.- EFIGENIO MOURA

Lei do Sigilo Eterno.
Efigênio Moura ( contato@efigeniomoura.com.br)

No centro de Cabaceiras uma ligação telefônica chamava a atenção de quem passava perto da Prefeitura. Era Samanta, filho de Biu Sapatin, funcionário aposentado de Zé Pombo.
- Tu num pode me tratá desse jeito não Liandrin !
Silencio.
- Alô! Alô! Alô!



Parecia que a voz do outro lado do telefone tinha dificuldades em sair, ou se formar em frase grande, mas...
- Liandrin, tu isquecêu du qu’êu fiz pra tu foi ? Tu é muito malagradécido...
E Samanta meneava a cabeça sucessiva vezes e dava pra ver mesmo ao longe, um brilho molhado no meio dos olhos dela, o monólogo já estava sendo acompanhado por alguns curiosos, mesmo a distancia...
- Reléve Liadrin. Alô ? Sim, cuma ia dizeno, tu acha qui eu ia adivinhá uma coisa daquela ? Iscuita! Shiiiiiiii, caláboca qui quem tava falano era eu...
Samantha tenta escrever com os pés numa lousa imaginaria solta na calçada, parecia atenta ao que o interlocutor dizia...
- Não Sinhô! Dei não sinhô. É mintira daquele caba safado. É ment...
Parecia ser uma bronca. Um ajuste de contas. Parecia pelo que o vento contava que Leandrinho queria se livrar de alguma coisa...
- Num pense quié fáci não viu Leandrin ? Cabaçeira todinha vai sabê quem é tu...o quê? Tu mandô eu calá mi’a boca de novo ?

Agora a plateia já via Samantha ciscando, apagando com os dois pés o que tinha tentando escrever naquela lousa imaginária, a mão esquerda segurando o telefone vermelho, a mão direita livre e apalpando o objeto...
- Mim iscute Leandrin... Num  tenho medo não ! Tu num sabe qui ô sô arrochada ?Quem ? Rapa o quê ? Tu me chamô daquele nome foi? .Han ... Ahhhh! Tu num qué intriga... Ô também não... Deixô falá homi de Deus...
A agonia de Samantha era o diferencial daquela tarde tão igual, de meio de semana, de meio de nada, de tão quente que se fazia em Cabaceiras. Já rodava um rapazinho vendendo rolete de cana, enquanto isso,  o filho de Biu Sapatin, debulhava suas razões para manter em situação igualdade, a conversa com Leandrinho...
- Mim respeite Leandrin!! Na hora do... ( disse em voz baixinha)
Todo mundo que escutava virou o ouvido e se entreolharam para saber o que havia sido dito...
- Arguem Ouviu?
- Acho qui falô de Palocci.
Volta pra Samantha.
-... Tu gostô né ?  ô meu amado...Se você num mandá o prometido, Liadrin, ô conto viu ? Eu ispaio tudo e aí quero vê se tu é homi ? Han ?
Alô ? Alô?  Tomo côidado cumquê ? Cumquê? Qui bixiga de Lei do Sigilo Eterno é essa? Eu quero sabe dessa mulésta...Quero sabe se tu esqueceu das coisa embaixo da ponte...Liandrin ?
Quem era Leandrinho ?
- Os povo vão sabê quem é tu e ai  quero vê tu andá no jipe de Evandro da Cagepa, todo posudo...han ? Tu num feiz nada o quê, caba safado... E aquele fugado todo? Agora eu provo, se meta a besta pra vê se num provo.....
Era Samantha raivosa. Nervosa e decidida...
- A ficha vai cair. Vô ligar mais não. Vô amanhã nos côrrei vê se a incumenda  chegô, se num  chegá, nem pise aqui na Festa do Bode Rei viu ? Alô, Alô ?  Caiu.
Recolocou o fone no gancho. Colocou na boca a liga que amarrava o cabelo, com as duas mãos fez o coque, suspirou forte, olhou para quem a olhava antes e rebolando seguiu rumo ao Palhoção no centro da cidade. No outro lado da calçada, Dudu, o vendedor de rolete de cana comentou entre os dentes...
- Viado aprumado da gota!!! Lascôsse Leandrin!

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