14 novembro, 2010

O Valor que tem a Vida - RAPHAEL MOURA

> Outro dia passando na avenida

> Avistei linda moça me olhando

> Com seus olhos brilhosos me chamando

> Parecia nem ser mulher “Perdida”

> Implorando: resgate a minha vida

> Não agüento viver nessa ilusão

> De vender o meu corpo por tostão

> Fabricando tesão sem ter prazer

> Dessa vida não sei o que fazer

> Tô tentando salvar meu coração

>

> 2

> O meu peito sofrido está sentindo

> Tenho em casa três filhos pra criar

> Mas um dia cismei de aventurar

> E ganhar o meu pão prostituindo

> E assim minha vida foi seguindo

> Hoje me arrependo loucamente

> Estudar pra crescer futuramente

> Eu não fiz no passado e tô pagando

> Hoje vivo na rua trabalhando

> Minha alma ate hoje chora e sente


> 3

> Os meus pais não me deram educação

> Eu nasci num sinal pedindo esmola

> Logo cedo eu passei a cheirar cola

> Para não sentir falta de um pão

> Com os 12 foi preso o meu irmão

> Fui com 13 pra rua trabalhar

> No inicio foi triste acostumar

> Nessa vida difícil que arranjei

> Tão difícil que nem me acostumei

> Que ate hoje meu sonho é me salvar

>

> 4

> Minha casa era a rua de um lixão

> Minha cama fofinha era a calçada

> Um tijolo era a minha almofada

> Um pedaço de pano era o colchão

> Meu lamento era a minha oração

> Meu orgulho era o pai que eu amava

> Era sol, era chuva, trabalhava

> Pra trazer nosso pão de cada dia

> Eu de noite comendo agradecia

> A meu pai que com amor me alimentava

>

>

> 5

> Quando a nuvem da chuva aparecia

> A tristeza no peito já chegava

> Pois com frio o meu corpo congelava

> Quando a chuva passava, amanhecia

> Quando o sol clareava o lindo dia

> Bem novinha eu já ia pro sinal

> Me sentava na beira do canal

> Assistindo o meu pai pedindo ajuda

> E eu pedindo a meu Deus que nos acuda

> Que mudasse essa vida tão banal

>

> 6

> Nas esquinas da vida estacionava

> O meu corpo singelo pra programas

> Já deitei sem vontade em varias camas

> E nas horas de angustia eu chorava

> Relembrando do pai que eu amava

> Que morreu nos meus braços lamentando

> Alisando meu rosto e desculpando

> Por não ter dado aquilo que devia

> Que era amor, atenção e alegria

> Mas morreu e eu sempre admirando

>

> 7

> Minha vida resume em uma estória

> De um desfecho indeciso sem plural

> Assim como o vermelho do sinal

> Que carrega o verde da vitória

> Batalhar para ter vida com glória

> É um sonho que eu tenho de criança

> Isso vem carregado na lembrança

> Desde que um velhinho me disse um dia

> Eu aposto que o amor e a alegria

> Baterá na sua porta da esperança

>

> 8

> Mas amigo lhe digo com firmeza

> Que irei me livrar dessa batalha

> Por que Deus quando quer, ele não falha

> Pois a vida é repleta de beleza

> Eu perdi muito tempo, com certeza

> Pra vencer, nunca é tarde pra mudar

> Essa vida me fez tanto sonhar

> Que agora o real quero viver

> Me cansei de ser alvo do sofrer

> Fez efeito o remédio que é amar

>

>

> 9

> Comovido fiquei com o sofrimento

> Dessa linda mulher, se lamentando

> Com seus olhos brilhosos, já chorando

> O silêncio reinava no momento

> Fiquei pasmo com o grande sentimento

> E a garota mostrava arrependida

> Com esperança de ter a despedida

> Do trabalho cruel que ela arranjou

> E partir para a vida que sonhou

> Que é viver lealmente a sua vida


Raphael Moura

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