> Outro dia passando na avenida
> Avistei linda moça me olhando
> Com seus olhos brilhosos me chamando
> Parecia nem ser mulher “Perdida”
> Implorando: resgate a minha vida
> Não agüento viver nessa ilusão
> De vender o meu corpo por tostão
> Fabricando tesão sem ter prazer
> Dessa vida não sei o que fazer
> Tô tentando salvar meu coração
>
> 2
> O meu peito sofrido está sentindo
> Tenho em casa três filhos pra criar
> Mas um dia cismei de aventurar
> E ganhar o meu pão prostituindo
> E assim minha vida foi seguindo
> Hoje me arrependo loucamente
> Estudar pra crescer futuramente
> Eu não fiz no passado e tô pagando
> Hoje vivo na rua trabalhando
> Minha alma ate hoje chora e sente
> 3
> Os meus pais não me deram educação
> Eu nasci num sinal pedindo esmola
> Logo cedo eu passei a cheirar cola
> Para não sentir falta de um pão
> Com os 12 foi preso o meu irmão
> Fui com 13 pra rua trabalhar
> No inicio foi triste acostumar
> Nessa vida difícil que arranjei
> Tão difícil que nem me acostumei
> Que ate hoje meu sonho é me salvar
>
> 4
> Minha casa era a rua de um lixão
> Minha cama fofinha era a calçada
> Um tijolo era a minha almofada
> Um pedaço de pano era o colchão
> Meu lamento era a minha oração
> Meu orgulho era o pai que eu amava
> Era sol, era chuva, trabalhava
> Pra trazer nosso pão de cada dia
> Eu de noite comendo agradecia
> A meu pai que com amor me alimentava
>
>
> 5
> Quando a nuvem da chuva aparecia
> A tristeza no peito já chegava
> Pois com frio o meu corpo congelava
> Quando a chuva passava, amanhecia
> Quando o sol clareava o lindo dia
> Bem novinha eu já ia pro sinal
> Me sentava na beira do canal
> Assistindo o meu pai pedindo ajuda
> E eu pedindo a meu Deus que nos acuda
> Que mudasse essa vida tão banal
>
> 6
> Nas esquinas da vida estacionava
> O meu corpo singelo pra programas
> Já deitei sem vontade em varias camas
> E nas horas de angustia eu chorava
> Relembrando do pai que eu amava
> Que morreu nos meus braços lamentando
> Alisando meu rosto e desculpando
> Por não ter dado aquilo que devia
> Que era amor, atenção e alegria
> Mas morreu e eu sempre admirando
>
> 7
> Minha vida resume em uma estória
> De um desfecho indeciso sem plural
> Assim como o vermelho do sinal
> Que carrega o verde da vitória
> Batalhar para ter vida com glória
> É um sonho que eu tenho de criança
> Isso vem carregado na lembrança
> Desde que um velhinho me disse um dia
> Eu aposto que o amor e a alegria
> Baterá na sua porta da esperança
>
> 8
> Mas amigo lhe digo com firmeza
> Que irei me livrar dessa batalha
> Por que Deus quando quer, ele não falha
> Pois a vida é repleta de beleza
> Eu perdi muito tempo, com certeza
> Pra vencer, nunca é tarde pra mudar
> Essa vida me fez tanto sonhar
> Que agora o real quero viver
> Me cansei de ser alvo do sofrer
> Fez efeito o remédio que é amar
>
>
> 9
> Comovido fiquei com o sofrimento
> Dessa linda mulher, se lamentando
> Com seus olhos brilhosos, já chorando
> O silêncio reinava no momento
> Fiquei pasmo com o grande sentimento
> E a garota mostrava arrependida
> Com esperança de ter a despedida
> Do trabalho cruel que ela arranjou
> E partir para a vida que sonhou
> Que é viver lealmente a sua vida
Raphael Moura
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