15 março, 2008

ANIVERSÁRIO DO POETA CHICO PEDROSA E DIA NACIONAL DA POESIA

O POETA MARCOS PASSOS, EU E O POETA CHICO PEDROSA NO SEU ANIVERSÁRIO NO ARRIÉGUA.

AQUI O POETA MARCOS DECLAMANDO " CARNE E ALMA" 13 DÉCIMAS EM DESSÍLABO, VERSO GRANDE DA GÔTA!!!
O SERTÃO EM CARNE E ALMA

baixe o cd com essa poesia clicando aqui:

Ivanildo Vilanova & Geraldo Amâncio

UMA TARDE DE INVERNO NO SERTÃO

É UM GRANDE ESPETÁCULO PRA QUEM PASSA

CÉU EM GOTAS NOS TUFOS DE FUMAÇA,

ÁGUA FORTE ROLANDO PELO CHÃO;

O ESTRONDO DA MÁQUINA DO TROVÃO

ENTRE AS NUVENS DO CÉU ARROXEADO

E UM RAIO CAINDO ASSOMBRA O GADO

ATOLADO POR ENTRE AS LAMAS PRETAS;

ROSNA O VENTO FAZENDO PIRUETAS

NAS ESPIGAS DE MILHO DO ROÇADO




NO SERTÃO QUANDO O CHÃO FICA MOLHADO

CORRE ÁGUA NAS VEIAS DE UM REGATO;

PULA A ONÇA DA FURNA, CORRE UM GATO

E UM CAVALO GALOPA ESTROPIADO

UM GARROTE ATRAVESSA UM RIO DE NADO,

UMA COBRA SE ACOA COM UM CANCÃO

A CANTIGA SAUDOSA DO CARÃO

FAZ LEMBRAR O LUGAR QUE FUI NASCIDO

ENTRE AS TELAS DE UM FILME COLORIDO

QUE DEUS FEZ PRO CINEMA DO SERTÃO




UMA FESTA ANIMADA DE SÃO JOÃO

NUNCA FALTA CANJICA NEM SEQUILHO;

A PAMONHA, O MINGAU, BOLO DE MILHO,

BUSCAPÉ, ESTRELINHA E FOGUETÃO;

CANTORIA, O NAMORO, DISCUSSÃO,

QUEBRA-POTE E CORRIDA DE ARGOLINHA;

O PADRINHO DE FOGUEIRA E A MADRINHA,

CASAMENTO MATUTO SAMBA E JOGO

E UMA CABOCLA COM O ROSTO COR DE FOGO

TOCAIANDO AS PANELAS NA COZINHA





NO SERTÃO QUANDO É BEM DE MANHÃZINHA

SERTANEJO SE ACORDA NA PALHOÇA

CHAMA O FILHO MAIS VELHO, SAI PRA ROÇA

A MULHER TOMA CONTA DA COZINHA

FAZ O FOGO DE LENHA E ENCAMINHA

UM GUISADO, ANGU QUENTE OU FAVA PURA

E DEPOIS DE FAZER ESSA MISTURA

SAI FACEIRA IGUALMENTE UMA CONDESSA

COM UM TIMBUNGO DE BARRO NA CABEÇA

VAI LEVAR AOS HERÓIS DA AGRICULTURA.



NO SERTÃO A TAREFA É MUITO DURA

MAS, SE TENDO A COLHEITA, A CRIAÇÃO,

FERRAMENTA DA NOSSA PRODUÇÃO

UMA REDE, UM GRAJAU DE RAPADURA

UMA DEZ POLEGADAS NA CINTURA

A VIOLA, UMA BAÚ, UMA CABAÇA

A TAREFA E UM LITRO DE CACHAÇA

MESCLA AZUL, BOTINÃO, CHAPÉU BAETA,

FUMO GROSSO, ESPINGARDA DE ESPOLETA

E UM CACHORRO MESTIÇO BOM DE CAÇA




A RIQUEZA DO POBRE NUNCA PASSA

DE UM POTE QUE MATA A SUA SEDE

UMA ENXADA NUM CANTO DE PAREDE

DOIS CHAPÉUS, UM DE PALHA OUTRO DE MASSA,

UM CAMBITO TINGIDO DE FUMAÇA,

UNS DEZ FILHOS QUE TÊM SUA APARÊNCIA

E UMA ESPOSA QUE É MÃE DA PACIÊNCIA,

SE CHORAR OU SOFRER NÃO SE MALDIZ

E ELE, ÀS VEZES, É MUITO MAIS FELIZ

DO QUE UM RICO LADRÃO DE CONSCIÊNCIA.




É PRECISO TER MUITA PACIÊNCIA,

GUARDAR MILHO NUM QUARTO EMPAIOLADO,

SUSTENTAR CRIAÇÃO COM ALASTRADO

NUMA TERRA QUE TEM POUCA ASSISTÊNCIA;

TRABALHAR NUMA FRENTE DE EMERGÊNCIA,

ESPERANDO O INVERNO QUE NÃO VEM;

INSISTIR, CRER EM DEUS E TRATAR BEM,

MANTER SEMPRE A FAMÍLIA TÃO UNIDA,

DO CHÃO SECO ARRANCAR O PÃO DA VIDA

SERTANEJO FAZ ISSO E MAIS NINGUÉM!




NO SERTÃO QUANDO O INVERNO NÃO VEM

SÓ SE ENCONTRA DESOLAÇÃO E MÁGOA;

NO RIACHO NÃO VÊ-SE UM PINGO D’ÁGUA

SOPRA UM VENTO ASSOMBROSO DO ALÉM;

SECA O TRONCO ROBUSTO DO MUQUÉM,

CAI A FOLHA MAIS GROSSA E MURCHA A FINA

TODA ÁRVORE EMURCHECE, SE INCLINA,

NO CALOR DO SOL QUENTE ENVERGA AS COSTAS,

PARECENDO UM FANTASMA DE MÃOS POSTAS

NO ALTAR DE UMA SECA NORDESTINA.




NO SERTÃO QUANDO O SOL SE DESCORTINA

SE ESCUTA O ZUMBIDO DAS ABELHAS,

O BALIR MELANCÓLICO DAS OVELHAS,

O DUETO DOS PASSÁROS NA MATINA;

O BONITO ALAZÃO SACODE A CRINA,

O VAQUEIRO ABOIANDO CHAMA A RÊS;

OS CANCÕES GRITAM TODOS DE UMA VEZ,

ACUSANDO A PRESENÇA DA SERPENTE,

NUM CONCERTO DE MÚSICA DIFERENTE

DA ORQUESTRA SINFÔNICA QUE DEUS FEZ




E O TRAJE DO HOMEM CAMPONÊS

QUANDO SAI PRA UMA FESTA OU PARA A FEIRA

É A CALÇA DE MESCLA, UMA PEIXEIRA

PALETÓ BEM LISTRADO OU DE XADREZ;

UMAS BOTAS DO COURO DE UMA RÊS

PRA DANÇAR O FORRÓ ENQUANTO É MOÇO

UM CHAPÉU ABA LARGA, GRANDE E GROSSO

COM UMA PENA QUALQUER DE UM PASSARINHO

E A MEDALHA FIEL DO MEU PADRINHO

NUM ROSÁRIO ENFIADO NO PESCOÇO.



FALAR MAL DO SERTÃO HOJE EU NÃO OUÇO

NÃO SE ENTREGA AO CANSAÇO OU ENXAQUECA

UM HERÓI PELEJANDO CONTRA A SECA,

CONTRA A CHEIA COMBATE SEM SOBROSSO;

RESPEITANDO A MORAL DE VELHO OU MOÇO,

TAMBÉM QUER VER A SUA RESPEITADA

SEM BRASIL A AMÉRICA É DERROTADA

COM BRASIL A AMÉRICA VALE MIL

SEM NORDESTE O BRASIL NÃO É BRASIL

SEM SERTÃO O NORDESTE NÃO É NADA.



NO SERTÃO QUANDO ROMPE A ALVORADA

NO OITÃO DO TERREIRO UM FRANGO PIA;

UMA COBRA VALENTE ENGOLE JIA,

NO DESERTO DESPERTA A PASSARADA,

CANTA UMA CANÇÃO TÃO AFINADA

QUE PARECE UMA ORQUESTRA UNIVERSAL;

UM PERU DÁ TRÊS VOLTAS NO QUINTAL

E UM CABRITO NA CABRA PUXA OS SEIOS

UM VAQUEIRO ESVAZIA OS PEITOS CHEIOS

DE UMA VACA LEITEIRA NO CURRAL.




UMA SOMBRA QUE DÁ NO MANGUEIRAL

UM CACHORRO BRIGANDO COM UM TEIÚ,

A CAÇADA DE PEBA E DE TATU,

A NOVENA, UMA NOITE DE NATAL;

UMA CARNE DE SOL COM POUCO SAL,

CANTORIA LOUVADA COM BANDEJA,

NO PILÃO, DUAS MOÇAS NA PELEJA,

UMA ARRANCA DE INHAME E DE MANIVA;

ISSO AÍ É A CÓPIA PURA E VIVA

DA MAIS BELA PAISAGEM SERTANEJA.





agradecimentos a MARCOS PASSOS, pela letra e ao blog http://musicamiga.blogspot.com que nos disponibiliza essa

2 comentários:

  1. O POETA DEVE ESTAR AO LADO DO POVO

    Todos nós que nascemos já poetas
    Contemplando ao redor a natureza
    Empolgados, cantamos sua beleza,
    O romântico das noites inquietas.
    Muitos vates, porém, fazem dietas,
    Não consomem do povo suas dores
    Dão as costas aos grandes dissabores
    E às causas que geram tantos males...
    Cantos fáceis preferem pelos vales
    À canção que exalta os sofredores.

    Para mim só poeta é quem escuta
    E quem leva no verso a dor do povo,
    Poeta que não sabe o que é estorvo
    Fadado está no mundo para a luta.
    Ele tem que colher da terra enxuta
    Os versos com teor de liberdade...
    Defender a justiça e a igualdade,
    Combater com seus raios os tiranos
    Para alcançar, vencendo os desenganos,
    Um mundo justo para humanidade.

    “Confortável é ser vate de salão
    E cantar agradando a burguesia,
    Declamar para ela só poesia
    Que não ousa levar contestação.
    Que só mostra das flores seu botão
    Exalando o perfume apaixonante,
    A bravura da classe dominante,
    Os seus feitos venais, fantasiosos,
    Nunca mostra, jamais, os poderosos
    Com seu ar prepotente e arrogante.

    Se olharmos o campo e a cidade
    O semblante macabro do seu lado
    Vamos ver que se acha destroçado
    O seu povo sem pão, sem liberdade.
    Além de não haver honestidade
    Com gestões corruptas, de lambança,
    Falta escola, saúde e segurança
    E aquilo que é de mais sagrado:
    O porvir, o amanhã, o eldorado,
    Sua crença, o seu sonho, a esperança.

    Mas, poeta cujo povo tem seu verso
    Para, então, construir sua utopia
    Recobrando nesse sonho de poesia
    Se levanta e refaz seu universo.
    Superando vai a força do perverso,
    Com ideias juntando companheiros
    Pra na luta, tornados em guerreiros,
    Conquistar seu espaço, sua glória...
    Transformar com bravura uma história
    Com a queda de todos cativeiros.”

    ResponderExcluir
  2. O POETA DEVE ESTAR AO LADO DO POVO

    Todos nós que nascemos já poetas
    Contemplando ao redor a natureza
    Empolgados, cantamos sua beleza,
    O romântico das noites inquietas.
    Muitos vates, porém, fazem dietas,
    Não consomem do povo suas dores
    Dão as costas aos grandes dissabores
    E às causas que geram tantos males...
    Cantos fáceis preferem pelos vales
    À canção que exalta os sofredores.

    Para mim só poeta é quem escuta
    E quem leva no verso a dor do povo,
    Poeta que não sabe o que é estorvo
    Fadado está no mundo para a luta.
    Ele tem que colher da terra enxuta
    Os versos com teor de liberdade...
    Defender a justiça e a igualdade,
    Combater com seus raios os tiranos
    Para alcançar, vencendo os desenganos,
    Um mundo justo para humanidade.

    “Confortável é ser vate de salão
    E cantar agradando a burguesia,
    Declamar para ela só poesia
    Que não ousa levar contestação.
    Que só mostra das flores seu botão
    Exalando o perfume apaixonante,
    A bravura da classe dominante,
    Os seus feitos venais, fantasiosos,
    Nunca mostra, jamais, os poderosos
    Com seu ar prepotente e arrogante.

    Se olharmos o campo e a cidade
    O semblante macabro do seu lado
    Vamos ver que se acha destroçado
    O seu povo sem pão, sem liberdade.
    Além de não haver honestidade
    Com gestões corruptas, de lambança,
    Falta escola, saúde e segurança
    E aquilo que é de mais sagrado:
    O porvir, o amanhã, o eldorado,
    Sua crença, o seu sonho, a esperança.

    Mas, poeta cujo povo tem seu verso
    Para, então, construir sua utopia
    Recobrando nesse sonho de poesia
    Se levanta e refaz seu universo.
    Superando vai a força do perverso,
    Com ideias juntando companheiros
    Pra na luta, tornados em guerreiros,
    Conquistar seu espaço, sua glória...
    Transformar com bravura uma história
    Com a queda de todos cativeiros.”

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Poeta Heleno Alexandre disse:


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