23 maio, 2013

XXI CAVALGADA À PEDRA DO REINO - TEXTO DE VALDIR NOGUEIRA


Pedra do Reino: Crença em messias português gerou terrível massacre em São José do Belmonte



Os episódios históricos extraordinários aconteceram entre 1835 e 1838, no sertão de Pernambuco, em região que atualmente pertence ao município de São José de Belmonte, a 479 quilômetros de Recife. Lá se erguem dois pináculos rochosos paralelos, com cerca de trinta metros de altura, incrustados de minérios que refletem a luz do Sol.

Sobre estes fatos, não só Ariano Suassuna escreveu essa obra-prima que é "O Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta". Além dele, Euclides da Cunha também faz menção ao fato em "Os Sertões", bem como José Lins do Rego dedicou um romance ao tema, intitulado "Pedra Bonita" e “Cangaceiros”.

Dom Sebastião, o Desejado
Mas os fatos trágicos e sangrentos que aconteceram na Pedra Bonita, no século 19, estão ligados a outros, não menos trágicos e sangrentos, que ocorreram em Portugal e no Marrocos, no século 16. Estes deram origem a um fenômeno mitológico-religioso chamado sebastianismo, um messianismo lusitano, que também se arraigou no sertão nordestino desde a época da Colônia.

Grosso modo, messianismo é a crença na vinda de um messias, de um redentor, que vai redimir os homens de seus pecados e conduzi-los a um outro reino ou mundo, onde a felicidade prevalece. O messianismo sebastianista foi gerado a partir de diversas circunstâncias históricas.

Governado por Dom João III, o rei que deu início à colonização do Brasil, Portugal corria o risco de ver seu trono parar nas mãos de um espanhol, caso o monarca não deixasse um sucessor ou herdeiro. O nascimento de um neto de dom João - Dom Sebastião - em 1554 resolveu temporariamente o problema.

Ainda antes de nascer, dom Sebastião se tornou conhecido por "o Desejado", uma vez que personificava o desejo coletivo de independência portuguesa. Aos três anos foi aclamado rei de Portugal, embora o governo propriamente dito ficasse nas mãos de um regente, até que ele atingiu os 14 anos e subiu ao trono.

Ascenção aos céus e o Quinto Império
Entre outros presentes que recebeu, então, ganhou de um poeta uma singela obra que lhe foi dedicada: nada menos que a maior epopéia da língua portuguesa, "Os Lusíadas", que Luís de Camões lhe ofertou. Mas nem tudo foi esplendor na vida de Dom Sebastião. Profundamente religioso, animado pelas histórias heróicas de combate contra os muçulmanos, o jovem soberano resolveu conquistar o Marrocos para a cristandade.

Na batalha de Alcácer-Quibir, contra os mouros, em 1578, foi morto com a maioria das tropas lusitanas. Para os portugueses o trauma foi enorme, até porque, dois anos depois, o trono luso passaria às mãos do rei FelipeII da Espanha. A reação da nação lusitana aos fatos se deu no nível do imaginário e nasceu um mito.

Segundo a lenda, em meio ao caos da batalha no Marrocos, os céus se abriram e uma legião de anjos levou dom Sebastião para o lado de Deus, de onde ele haveria de retornar, como redentor do povo português. O Quinto Império - reinado mítico de dom Sebastião - se caracterizaria pela justiça e a fartura.

O monarca no Nordesde
Pois bem, esse mito foi trazido pelos colonizadores ao Nordeste do Brasil e também comoveu os habitantes da região, uma vez que, como Portugal, a colônia brasileira permaneceu sob domínio espanhol até 1640.

As manifestações coletivas do sebastianismo em solo brasileiro, porém, só aconteceriam no século 19, em Pernambuco e na Bahia. Foram os episódios do Rodeador, no atual município de Bonito (PE), em 1819, o Reino da Pedra Bonita, já mencionado no início, e a Guerra de Canudos, de 1897-98.

Todos eles são manifestações de religiosidade e de insatisfação social de populações carentes, e tiveram desfecho trágico, com a intervenção do governo para acabar - a bala - com os agrupamentos que se formaram em torno dos "profetas" sertanejos. Na impossibilidade de comentar cada um deles, relate-se o caso de Pedra Bonita.

Sebastianismo caboclo
Em 1836, o mameluco João Antônio dos Santos passou a pregar que Dom Sebastião estava encantado na Pedra Bonita, de onde era necessário libertá-lo, para que ele implantasse um reino de justiça, prosperidade e liberdade no sertão. Supõe-se que João Antônio dos Santos não acreditava muito no que dizia e se aproveitava da credulidade da população local.

No entanto, o "reino" de João Antônio incomodou os fazendeiros, que perdiam seus trabalhadores para a Pedra Bonita, e a Igreja, que via a manifestação como blasfêmia. João Antônio fugiu do local e "exilou-se" no Ceará. Mas manteve viva a chama do sebastianismo em Pedra Bonita, por meio de seu cunhado João Ferreira.

Ao contrário de seu antecessor, Ferreira era um fanático, além de maníaco sexual. Para se ter uma idéia, todas as noivas de sua comunidade tinham que dormir com ele na primeira noite antes de casar-se. Ferreira, ademais, já era um polígamo consumado, tendo se casado com sete mulheres.

O delírio místico do auto-intitulado rei João Ferreira teve seu ápice quando ele proclamou que a Pedra só se desencantaria quando lavada por sangue. Os sacrificados ressuscitariam poderosos e imortais. A noção de fanatismo é suficientemente conhecida em nossa era de homens-bomba. Fanáticos não hesitam em dar a vida por suas crenças.

Sangue e fogo
O pai de João Ferreira foi o primeiro a se suicidar. Uma das mulheres do líder foi degolada por ele mesmo. A Pedra foi, de fato, lavada com sangue, mas não se desencantou. Foi o que bastou para Pedro Antônio, um cunhado de João Ferreira, declarar que a Pedra reclamava o sacrifício do próprio rei. João Ferreira foi brutalmente assassinado pelos seus seguidores e Pedro Antônio proclamou-se o novo rei.

Contudo, um vaqueiro que presenciara os primeiros sacrifícios denunciou a tragédia às autoridades e uma tropa de homens, comandada pelo major Manuel Pereira da Silva, dirigiu-se ao local para dispersar os fanáticos. Houve resistência e muitos fanáticos morreram inclusive Pedro Antônio. Era o fim do Reino da Pedra Bonita em 18 maio de 1838.
Em 1993 surge a Cavalgada à Pedra do Reino. Festa de mouros e cristãos, sendo uma homenagem às tradições ibéricas buscando inspiração na temática das Cavalhadas, especialmente na lenda “Carlos Magno e os doze pares de França” – bastante propagada nos cordéis nordestinos – e no sebastianismo.
Entre bandeiras azuis e encarnadas, com meias-luas, cruzes de malta e outros ícones armoriais, a nossa cidade se prepara neste período para receber os visitantes e marcar mais uma vez os festejos da tradicional Cavalgada à Pedra do Reino.

Valdir José Nogueira de Moura

18 maio, 2013

O TRISTE DESFECHO DO REINO ENCANTADO, TEXTO DE VALDIR NOGUEIRA



Após ouvir a narrativa do fugitivo, identificado no processo como José Gomes, o major Manuel Pereira, então chefe de polícia, partiu para a sede da Comarca (Flores), onde comunicou os fatos ao juiz de Direito, que ordenou a mobilização de alguns homens para, juntamente com a força policial, seguir para o local dos acontecimentos. O major Manuel Pereira convocou seus três irmãos, Símplicio, Cipriano e Alexandre, e mais 30 moradores da cidade, os quais, ao todo, formaram uma força de 60 combatentes.               
No dia 18 de maio, a tropa deslocou-se em cavalgada, atingindo a região dos eventos ao entardecer do dia seguinte. Foi cerrado, então, grande combate. Depois de mais de uma hora de luta corpo-a-corpo, inúmeros cadáveres jaziam no chão, dentre eles, dois irmãos do major Manuel Pereira: Alexandre e Cipriano. Foram feitos também muitos presos. Alguns fugitivos foram chacinados pela força do capitão Simplício Pereira da Silva.      
A maioria dos homens teve que enfrentar a justiça. Alguns foram levados acorrentados em lúgubre procissão de sombras esqueléticas e esfarrapadas, para os cárceres da ilha de Fernando de Noronha. As mulheres tiveram penas variadas, em função dos crimes apurados, e as crianças foram postas em liberdade e distribuídas com a população de Flores para que as criassem.
Quanto a João Antônio – o primeiro rei da Pedra Bonita – foi perseguido e capturado no Estado de Minas Gerais, juntamente com sua mulher, Maria. Algemados foram transportados de regresso a Pernambuco. Todavia, durante a viagem, a polícia com medo que os presos sucumbissem de uma febre palustre que foram atacados, resolveram matar João Antônio. Quanto a Maria, foi levada para a prisão, sendo posteriormente indultada por decreto do presidente da Província de Pernambuco, o barão Francisco do Rego Barros (futuro conde da Boa Vista).No dia 25 de maio de 1838, o então prefeito de Flores, o coronel Francisco Barbosa Nogueira Paz, escreveu uma carta ao presidente da Província de Pernambuco, Francisco do Rego Barros, dando-lhe ciência do “Caso mais extraordinário, mais terrível, nunca visto, quase incapaz de acreditar-se”, ocorrido na Pedra Bonita. Essa carta foi publicada no Diário de Pernambuco, em 16 de junho de 1838.   
O padre José Francisco Correia, o mesmo que tentara demover João Antônio de suas idéias, esteve no local dois meses depois, reuniu as ossadas das vítimas e lhes deu sepultura. Sobre elas levantou uma cruz de madeira e rezou uma missa. Encerrou a cerimônia com um pedido de perdão para os sebastianistas. Estes fatos aconteceram há 175 anos.

Valdir José Nogueira de Moura

  
https://www.facebook.com/valdirjose.nogueira

13 maio, 2013

A POESIA DE THIAGO MONTEIRO

SERTÃO DE DOR E ESPERANÇA 

Meu Sertão, quanta beleza!
Tão belo, mas quem diria
Que fosse virar tristeza
Esta beleza algum dia.
Sem água, o teu chão padece,
O mato seco não cresce
Alimentando esta mágoa.
E fica o pobre matuto
Vendo o seu solo de luto
Sem ter nem um pingo d’água.

Vendo a lagoa vazia,
Um boi, pra viver, insiste.
Mas sem água todo dia,
Da própria vida desiste.
E o camponês do roçado,
Trabalhador alugado,
Diz: “Meu Deus, tem dó de mim!
Manda chuva pro Sertão,
Irrigando o nosso chão,
Pr’eu não ter o mesmo fim.”

Mas esta cena que eu vejo,
Não resolvo e nem aceito,
Pois na dor do sertanejo
Só Deus pode dar um jeito,
Pra que um dia a mesma mude,
Volte a chuva enchendo açude,
Diminuindo a matança,
Embelezando o roçado,
Deixando o mau no passado,
Trocando a dor na esperança.

Thiago Monteiro 
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